Tremeliques de ternura

 

-Professora, preciso falar consigo. - era o B., que timidamente interrompia a conversa que eu estava a ter com a C., a quem pedi desculpas, porque o semblante sério do jovem me deixou com "a pulga atrás da orelha".
- Diz, B., o que se passa, que carinha é essa? - perguntei, esticando o pescoço e levantando o olhar, pois o B. é moço que se ergue lá para o metro e oitenta, mais coisa menos coisa.
Decidido, embora com um ar envergonhado, lá me disse ao que vinha: que sabia que hoje era o limite para a entrega dos trabalhos de grupo, mas ele não havia feito nada, os seus colegas chamaram-no para se encontrarem, no entanto, ele sempre arranjara uma desculpa. Que reconhecia que havia sido irresponsável e, por isso, estava a falar comigo, para me dizer que a nota que correspondia ao que havia feito era um zero, que não queria aproveitar-se do trabalho dos seus companheiros.
Lá fiz, atabalhoadamente, o meu papel de professora, que era um gesto muito bonito, mas que a responsabilidade, blá, blá, blá e fui dar aula. 90 minutos depois tocava para saída e para o almoço. Enquanto arrumava os meus pertences e verificava que só me esqueceria de uma ou duas coisas, um grupo veio ter comigo para entregar o trabalho. O R., rapaz discreto e tímido, olhando-me nos olhos pela primeira vez em dois anos, tomou a palavra:
- Professora, quero falar consigo - contrariamente ao que me habituou, o tom era determinado - quero que saiba que não concordo se atribuir a mesma avaliação a todos os elementos do meu grupo. Eu não mereço. Também trabalhei, é verdade, mas não fiz nem de perto nem de longe o que elas fizeram. O trabalho está mesmo bom, mas não é mérito meu, por isso, dê-me uma nota mais baixa!
Perplexa, só consegui responder:
- Oh R., por que raio me fazem vocês isto? Não sejam tão honestos! - e saí da sala, com o lábio inferior a tremer, por causa dos tremeliques de ternura que sentia no coração. 

CONVERSATION

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