O que a luta faz

 


Ainda não eram onze da noite e já o sono fechava estes dois belíssimos olhos castanhos. Incapaz de lutar, até achei bem aquela impertinência: dormir cedo, levantar cedo e começar a corrigir testes. Que plano! Que organização a minha!
Percebi lá para as duas da manhã, com uma pequena pontada em todas as partes do corpo, que estava no sofá, tais os encantos do João Pestana, em cujos braços desfaleci.
Lá me arrastei para a cama, onde às 06:43min me despertei com uma vontade incontrolável de me sentar no escritório a corrigir testes. Veio, no entanto, ao de cima, porque os formosos 32 anos ma trouxeram, a capacidade de controlar estes instintos impensados e, com a sensatez de quem conhece a vida, voltei-me na cama para descansar "mais meia horita". Mas o João Pestana e os seus encantos...
Vi-me, de repente, num túnel, a correr muito, porque tinha uma aula para dar e não estava preparada, enquanto corria, dizia isso às pessoas que também estavam ali, mas corriam em sentido contrário. É então que alguém me grita que fuja, pois havia um incêndio no prédio, que era preciso fugir. Eu cá não vou em cantigas, e vi naquela situação a oportunidade que me faltava para me aproveitar da fama de "ovelha negra" e continuei a correr, mas em sentido contrário. Fui dar a um terraço, onde avistei o J. e a C. e uma outra pessoa que não conheci, que dava ordens, que puséssemos numa mochila o essencial e saíssemos dali rapidamente. Está claro que isso me levantou um grande problema: afinal, o que é essencial? "De maneiras que" não fiz qualquer mochila. Fui, no entanto, arrastada pelas pessoas e fui parar a um táxi, onde estavam mais dois passageiros, um deles, sentado ao meu lado no banco de trás, parecia um aluno meu, mas como não tinha a certeza, não fiz conversa. Apenas pedi, com uma educação autoritária :"É para a Júlio Dantas, por favor!"
A viagem começou, e eu que levava a mochila vazia, encontrei lá dentro, de uma visita que fizera há muito, um pacote de gomas e outro de Conguitos. Pareceu-me mal estar a comer sem partilhar. Depois de verificar a data de validade, ofereci ao meu companheiro do lado e ao taxista. Cruzavam-se connosco muitos carros de bombeiros. O cenário era apocalíptico. A viagem interminável. Entre um Conguito e outro, perguntei a razão da demora. Que estávamos a chegar a Alvor e só depois voltaríamos a Lagos. Eu, que até ali estava a viver tudo aquilo com a tranquilidade própria de quem não sabe o que se está a passar, perdi a compostura e levantei a voz:
- Como estamos em Alvor, se estávamos em Lagos e eu tenho de estar na Júlio Dantas já!?!
Que tivesse calma, dizia-me o condutor.
Ameacei atirar-me do táxi em andamento.
Que não era para tanto, que estava a exagerar!
Foi quando disse as minhas razões que entenderam a dimensão do meu pânico :
- ESTOU NOMEADA PARA OS SERVIÇOS MÍNIMOS, CARAMBA! NÃO POSSO FALTAR! COMO É POSSÍVEL QUE ME TENHA TRAZIDO A ALVOR? NÃO POSSO MESMO FALTAR! "
A situação resolveu-se quando acordei ao som de uma chamada que chegou ao meu telemóvel. Tive sorte, se não me têm ligado, estaria agora com um processo disciplinar às costas, assim não, assim, enquanto vejo o dia lá fora que convida ao passeio, estou aqui no escritório a corrigir os testezinhos.
Bom Carnaval!

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