Há casório à vista




Isto há dias mais calmos. Hoje foi um deles. A nível de moços, porque hoje foi um dia especial. 
A aula correu dentro da normalidade, entre um “oh pressora, vai muito depressa” e um  “despacha-te a escrever” e do intervalo, apenas a registar um “oh pressora” em alta grita. Era o P. e outro jovem, cuja cara tenho em mente, mas cujo nome ainda se me escapa. O P. só me dizia “Ai pressora, ontem já apareci!” (sim, o jovem P. é o que pugna bravamente pela imortalidade nestas singelas linhas de prosa) e o outro jovem, sorridente, mas visivelmente desapontado, informava-me de que não o tinha referido na crónica de ontem e havia na sua expressão uma clara reprovação por não reconhecer o mérito do seu esforço.
Antes do atendimento aos Encarregados de Educação, aproveitei para dizer à colega P.G. como a sua elegância chega a ser deselegante para os mais anafadinhos. 
Após receber os pais avistei a colega I., sempre tão sorridente que até enerva e disse-lhe assim:
-Oh I., sabes uma coisa?
- Diz lá! – e sorria com aquela dentição perfeita que chega a ser deselegante para os que têm de usar a sua protesesita dentária.
- Estou a segundos de mandar a minha dieta ao ar – disse eu, a meter-me com ela, que dieta é coisa de que não preciso, facto que se confirma com a resposta, sob a forma de pergunta, que a colega I. me devolveu:
- Estás de dieta? - o ar era de incredulidade, digo eu. 
- Estou, não é que precise, eu sei, mas estou.
A I. continuava a sorrir e tive vontade de mandar ao ar aquele sorriso, pois em algum momento foi capaz de dizer um "estás bem assim", "dieta para quê?". É muito sorridente a colega I., mas a mim não me engana.
Depois, a colega S. entrou e vinha a comer bolachas. 
Eu tinha fome. 
Aproximei-me muito, muito das bolachas que trazia e comentei, quase em cima do delicioso alimento que estava prestes a ingerir:
- São tão boas essas bolachas e eu tenho tanta fome!  - a minha esperança era que a colega se comovesse. Nada. Bem tentei que alguma gotinha da minha saliva aterrasse no cobiçado pitéu. Se aterrou, e eu creio que sim, não surtiu qualquer efeito. A colega S. arregalou muitos os olhinhos e, de mãozinha no peito, dizia que só tinha aquela. Houve um momento em que parecia mesmo que ma ia dar, qual quê, comeu-a. Sem remorsos e depois disse que tinha de ir para a aula, deixando-me a babar de fome e incrédula com tamanha frieza
A seguir foi a colega I.S., mulher de grelhas excel e muitos números. Chamou-me para ver um naco de prosa, daquela escorreita, que diz muita coisa. Que estava boa, disse eu, mas comecei a sentir uma pontada no ventre. É que quando vejo muitos números e prosa escorreita, o intestino dá-me sinal. Aliás, há muito que não necessito de qualquer laxante. Quando a natureza não faz o que tem a fazer, abro logo umas grelhazinhas e é um alívio. Alívio que dispensa descrição, pois todos, em algum momento, já o sentimos.
E onde está esse dia especial, apregoado logo no início da cronicazinha. Pois cá vai a revelação:
- Ai, tenho de ir para a outra escola. Eu, contigo ficava aqui a tarde toda. Temos de nos casar e mesmo assim, 24 horas contigo é pouco. – disse um colega, cujo anonimato vou preservar, para que não venha o divórcio antes da própria boda.
- A gente casa-se, sim. – disse eu, já a pensar na ementa saudável que terei de mandar preparar para o copo d’água.
E assim vão os dias.

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