Eram quase 10 da noite e um aluno da escola, entrou em contacto comigo, via Messenger. Queria saber se precisávamos de uma coluna com microfone. Que sim, disse-lhe eu, que sou muito pelo barulho. O jovem, que não é meu aluno, assegurou-me que hoje iríamos aparecer na televisão. Claro está que quis logo saber como era isso possível. Respondeu-me que tinha contactos e que se sentia muito indignado pela forma como os professores são tratados, que era tudo muito injusto. Eu avisei o grupo dos "grevistas arruaceiros", ao qual, com orgulho, pertenço e, claro, começaram todos a pensar na fatiota que iriam vestir para aparecerem bem estreados ao país inteiro. Eu sugeri a indumentária do "reveillon" e, sem hesitação, todos acharam uma excelente ideia. Falei com uma colega da Gil Eanes e contei-lhe a novidade. Felicitou-nos, mas notei-lhe na voz uma certa pena por não ter um evento onde repetir a roupa caríssima da passagem de ano, afinal, era dinheiro que estava ali empatado e se pudesse voltar a vesti-la sempre lhe pesava menos a consciência. Depois, veio a preocupação: a roupita estava tratada, mas... e o penteado? Foi aí que me lembrei que tenho caracóis! Como estaria o tempo? Choveria? Haveria humidade? Vento? E porque a solidariedade é bonita, contactei imediatamente a colega C., parceira nos cabelos anelados, embora ela tenha mais anéis do que eu, o que não é de espantar, pois é oriunda de uma das cidades mais elegantes que este país teve, tem e terá, Évora. Mas dizia eu que contactei a colega, manifestando-lhe a minha preocupação, ao que, prontamente me enviou as previsões meteorológicas para os próximos dias. Descansei. Estava tudo composto para correr muito bem! Era meia noite, fui tomar banho e repousar o corpo e o pensamento. Pela manhã, a colega a quem notara pena na voz, ligou-me a perguntar se seria boa ideia juntarmos os dois agrupamentos. Ora, pergunto eu: como se diz que não a uma sugestão como esta, vinda de quem tinha pena na voz? Que sim, que nos juntávamos todos. E assim foi. Toda a gente bem vestida e de cabelos alinhados, a vociferar com classe as palavras de ordem da luta. E foi muito bonito. Discreto. Ordeiro, como manda a lei.
E senti muito orgulho. Da força, da entrega, da luta pelo bem comum.
O colega M., emocionado, que me abraça e me diz que sentia muito orgulho por ser professor; A dª M. e a dª C. que me abraçam, como se faz a um amigo que não se vê há muito; uma senhora que passava e nos aplaudia; os meus alunos, sempre eles, felizes, porque tinham “trazido” mais um professor para a luta; os meus alunos, sempre eles, que me abraçam e me dizem que estão muito orgulhosos; a minha direção de turma - quem mais? - que me aconselha a dar o segundo tempo de aula, para não me descontarem mais dinheiro; a felicidade e a cumplicidade dos meus companheiros de todos os dias, desde 9 de dezembro. É a adrenalina de quem ainda sonha, senhores. Venham sonhar connosco!
“Quién dijo que todo está perdido?
yo vengo a ofrecer mi corazón”
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