Ainda a manifestação de 28 de janeiro



Estaríamos a meio do percurso e vi-a, ali, no passeio, serena, com o mesmo cartaz: "Não sou professora, mas estou do vosso lado", reconheci-a de imediato, era a mesma senhora que, duas semanas antes havia avistado na Avenida, enquanto marchávamos até ao Terreiro do Paço. Nesse dia, não tive o atrevimento de a abordar, ontem sim. "Cátia, é a mesma senhora, anda comigo". A Cátia foi. Aproximei-me e perguntei-lhe se lhe podia tirar uma fotografia. Disse-me que sim. Enquanto o fazia, apercebi-me de que havia acrescentado uma folha, que pendia do primeiro cartaz, e onde se lia "Não desistam, por favor".

Tomou-me uma emoção tão grande, que lhe pedi
um abraço
. Deu-mo e foi tão apertado, tão sentido. No enquanto, agradeci-lhe o apoio, enquanto me segredava:"Não desistam, os meus netos precisam de vocês". Contive as lágrimas e só fui capaz de, olhos nos olhos, lhe dizer, "Muito obrigada, não imagina a força que têm as suas palavras". Voltei para a marcha, para os cânticos, que pouco a pouco, e de forma espontânea, foram dando lugar ao silêncio, ritmado apenas pelo som dos nossos passos alinhados com os tambores. As mãos presas e a boca amordaçada, mas o aplauso de quem nos via passar e a esperança de ser partícipe de um desses momentos que marcam a vida. Assim continuámos até Belém, depois tirámos as mordaças, comemos um pastel, conversámos e sentimos que estávamos a fazer parte de algo muito grande, muito maior que a própria luta.
Obrigada à senhora do cartaz, cujos netos precisam de nós, estamos na rua por eles e por todos, inclusivamente os que nos desacreditam.
Depois de tantos anos, renasce a esperança. Sou professora e orgulho-me tanto disso!

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