A presidente da junta



Um dia calmo, com uma ou outra coisinha pelo meio. É que isto das coisinhas já são um clássico.
Foi na aula do meio, que é onde está a virtude. Confesso que estava a começar a entusiasmar-me. Digo a começar, porque foi uma decisão de início de ano: tentar manter um perfil de pessoa que aparenta normalidade. Ora o problema é que nem eu sou de aparências e quando a elas se junta a da normalidade é um enredo muito grande, um hercúleo trabalho para o qual me falham as forças. Mas antes que o caro leitor salte já umas linhas, por enfado da paupérrima prosa desta que lhe escreve, dizia eu que estava a começar a entusiasmar-me, sendo o primeiro sinal, as gotas de suor que escorrem pelo rosto. Dirão as más línguas que é porque está um calor que não se pode, mas não ligo a pequenas provocações vindas de quem não quer ver o meu entusiasmo professoral. Ora, uma vez mais, caro leitor, aguente-se nesta prosa, não salte linhas, que vou já contar o que aconteceu.
Tenho um problema, bem, tenho mais do que um, mas este, hoje, despoletou o terramoto na aula. Pedi aos delegados de cada uma das turmas que têm o prazer diário da minha presença nas suas salas para que me lembrassem de escrever o sumário. É que se me esquece amiúde. Vai daí, a S. começou a moer-me logo no início da aula e eu a dizer-lhe que já escrevia e ela a moer e eu a dizer que já escrevia, e ela a moer, até que, prestes do fim, disse assim:
- Oh pressora, ‘tão e o sumário?
- Oh S., quando é que te calas?
Ui! O que eu fui dizer, veio logo a M. em sua defesa, que havia estado francamente mal com a afirmação que transcrevo, mas que me recuso a comentar: “Os word são melhores que os do pressor P. e os powerpoints do pressor P. são melhores que os da pressora”.
Ora a M., defendendo a amiguinha disse assim:
- Mas a pressora disse que ela podia gritar consigo por causa dos sumários.
- Eu?!? – exclamei horrorizada.
- Sim, ela é a Delegada! – respondeu, inchadíssima de vaidade pela alta patente da amiga, como se ela fosse a preseidente da Junta.
- Quero lá saber! – disse eu, acabando logo ali com aquela vaidadezinha.
A S., sentindo-se “ferida de espora”, como o Ramos do conto de Vergílio Ferreira, atirou, fria, contundente, certeira:
- Então, turma, a partir de hoje gostamos todos mais dos powerpoints do pressor P.
Doeu-me tudo por dentro, mas fingi descaso e limitei-me a comentar:
- Tanto te esforçaste, que já vais lá para a cronicazinha.
A petiz ficou nas “sete quintas” e eu a pensar numa maneira de lhe “cortar o pio”.
E assim vão os dias.

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