Foi calmo o dia. Será deste calor
que só com a interveção divina se pode aguentar. Por isso, tive aulas muito
religiosas. Uma petiz que dizia que não sabia as orações, disse-me assim:
- Oh pressora, eu não sei as orações!
Aqui entre nós, que ninguém nos
lê, a óbvia resposta não se fez esperar e
aventei-lhe logo à cara com:
- Oh minha menina, toda a gente
sabe um Pai Nosso e uma Avé Mariazita,
até eu! Não seja mas é herege e faça!
Ainda ouvi “Pai Nosso que estais
no céu...”, mas pus um olhar do demo e a coisa ficou por ali. E o meu olhar
também, pois ouviu isto: “ Mó bonitinho esse texto da avozinha”. Incrédula, olhei
para o jovem e perguntei-lhe o que tinha dito, não podia ser verdade! E não é
que me respondeu:
- Mó bonitinho esse texto da
avozinha, professora!
Achei bonito o momento, mas quis
parecer-me que ao dizê-lo, o discente não fez a pausazinha do vocativozito, o que
poderá querer dizer que achou que a avozinha do conto era professora e com isso
e um olhar entornadíssimo dizer que eu sou uma professora com ar de avozinha.
Este é um assunto a que terei de voltar na próxima aula, que eu gosto de tudo
muito bem esclarecido.
A aula lá terminou, e porque o
calor é muito e só Deus para nos acudir, lá me despedi com um “Ide em paz e que
o Senhor vos acompanhe” e, claro, ouviu-se um “Graças a Deus” estampado num
rosto descarado e sorridente, mas cheio de uma fervorosa fé.
Mesmo a encerrar o dia, chegou a
reunião com os pais. Disse-lhes que ainda ando a morrer de amores pelos
petizes, mas que temo que a rotina desgaste a relação. A determinada altura uma
senhora, que havia entrado, após ter-me apresentado, perguntou-me se eu era
professora de Matemática, ao que pedi que não me ofendesse, isto, claro, sem
querer ferir susceptibilidades e para terminar apagaram-se as luzes, estava na
hora da despedida. Ainda ficámos um pouco mais e já pouco se via, por isso, assegurei
aos pais que, na próxima reunião, trarei uma vela, até porque eu gosto de criar
bom ambiente.
E assim vão os dias.
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