A desesperança

 


Chegámos a Lisboa e sentia-se o pulsar da energia. Um almoço feito em pé, de sandes e bolos e já acompanhado pelo som, ainda tímido, de algum tambor que passava ou de alguma pandeireta atrevida. Depois disso, encaminhámo-nos para o sítio dos mal comportados. Para onde não envergonhássemos o desfile irrepreensível dos sindicatos sérios. Foi assim que descemos a Avenida, na cauda, a lutar com convicção, com alegria, com irreverência. A entrada na Praça do Comércio foi monumental, com uma coreografia que nasceu do improviso e que foi seguida de imediato por todos. Mas a chegada surpreendeu-me. Ingénua, nem coloquei a hipótese de não quererem ser vistos connosco. A Praça estava vazia. Apenas umas centenas de colegas nos receberam.
Não quero polémicas, apesar de me encontrarem muitas vezes, mas não posso, nem quero deixar de dizer o sabor amargo que trouxe ontem comigo. Foi a maior das 4 manifestações; foi até, segundo dizem, maior que a de 2008. Mas de que vale isso, se a união de que se fala é apenas uma hipocrisia com a qual nos queremos confortar, para que a fé de conseguir o que pretendemos não esmoreça. De que serve termos sido tantos se, claramente, o sindicatos do sistema querem continuar a fingir que representam todos os professores, mas criam, sem qualquer dissimulo, manobras de divisão e entrarão em negociações já com decisões previamente definidas.
Descer a Avenida senti-o como um tudo ou nada, que faz com que hoje esteja rouca e com o corpo dorido, um grito de quem quer continuar a acreditar, de quem não se quer render.
Mas não posso negar: saí de Lisboa sem esperança.


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Foto de Jorge Marques.

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