Estávamos na sala e os petizes a registarem os apontamentos.
O A.T., que até é um rapaz despachado, pedia-me que não avançasse, que estava
perdido. Revirei ligeiramente os olhos e esperei um pouco mais. Às tantas,
esperava eu e toda a turma. É então que a T.B., não sei se para me auxiliar, se
por estar fartinha de esperar e ansiosa por mais apontamentozinhos ou se por
ambas as coisas, virou-se para mim e disse:
- Avance, pressora,
eu depois mando-lhe fotos – e enquanto dizia isto, apontava para o A.T.
Eu cá, fiquei logo com a pulga atrás da orelha, mas calei-me, que eu não gosto de enredos. Mas o A.T., fazendo-se
despercebido, de sorrisinho espelhado no rosto, perguntou:
- Mandas-me fotos de quê?
- Do coisinho – disse a T.B.
Com isto ela queria dizer do powerpoint, claro está, mas à referência ao mandar fotos já eu havia segurado a
risadinha, a esta de enviar “fotos do coisinho” não resisti e por momentos desmanchei-me a rir. A
turma também, mas eu ordenei logo que parassem. A T.B., pobrezita, havia sido apanhada nas malhas matreiras da
língua e dos pensamentos pecaminosos dos seus colegas e estava muito atrapalhada. Por um tempo até não estava a perceber. Quando percebeu,
acho que queria enfiar-se num buraquinho.
Mas deixemo-nos de coisinhos, buraquinhos e fotos, que isto
é uma crónica para as famílias e temo que o linguajar entre por caminhos
apertados.
Quase a ir para fim-de-semana, estive com aqueles mocitos
que até para respirar precisam da minha ajuda. Bem tentava que trabalhassem,
mas estava tudo muito lento. Lá os tentei espicaçar com uns rebuçados:
- Quem me souber responder a esta questão, tem direito a
rebuçado – dizia eu, esperançosa.
- O rebuçado é de quê? – perguntou a L.
- Não interessa, disse eu. E a L. disse assim:
- A pressora faz como eu faço com a minha cadela: dou-lhe um
prémio quando se porta bem.
Eu calei-me logo com a história dos rebuçados, não fosse
algém lembrar-se de me acusar de estar a experimentar alguma espécie de
condionamento pavloviano.
E assim vão os dias.
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