Isto porque o tempo escasseia, a crónica de hoje é
de ontem também. Peço-vos atenção, que a materiazinha assim o exige. Ora vamos à
lição sobre empréstimos. Sossegue o caríssimo leitor, que nada irei pedir e
aviso, desde já, que não me encontro disponível para emprestar seja o que for.
Estes de que vos irei falar, e de que falei aos meus jovens alunos, são linguísticos.
Começa a aula, siglas p’ra cá, acrónimos p’ra lá e chega, então, a vez dos
ditos:
- Sabem uma coisa? Ontem fui ao “shopping”, bebi um
“cappuccino” e comi um “croissant”, depois comprei um “abat-jour” e mais tarde comi
uma “pizza”!
Era vê-los a olhar para mim. Silenciosos, mas a
perguntarem-se o que teriam eles a ver com as minhas saídas.
- Nada estranho?? – perguntei.
Nada.
- Oh moços, ouçam lá! – e toca a repetir todo o
relambório - Não há aqui nada que vos
desperte a atenção??
- A pressora
foi ao shopping só para beber um ”cappuccino”??? – perguntou a M., com um ar de
franca censura. Que desperdício de tempo e combustível, estaria a petiz a
pensar.
Quase me senti frustrada, mas eu cá não me deixo
abater e se a M. só reteve o “cappuccino”, seguramente, foi porque não gosta de
“pizza”.
Já hoje, com outra plateia, novamente às voltas com
acrónimos, truncaturas e outras coisas que tais, eis que surgem os empréstimos.
Ouçam-me:
- Sabem uma coisa? Ontem fui ao “shopping”, comprei
um “abat-jour”, depois bebi um “cappuccino” e comi um “croissant” e mais tarde comi
uma “pizza”!
- Já sei – dizia a M.M. – é uma enumeração!
Que sim, dizia eu, que era uma enumeração, mas que
não era bem isso o que eu queria, já que estava a falar de processos de
formação de palavras.
- É tipo, ‘tá a dizer o que fez! – respondia o L.S.
E eu lá repetia, enfatizando os empréstimos, mas
nada.
- Ouçam lá bem! – e repeti tudo de novo - ontem fui
ao “SHOPPING”, comprei um “ABAT-JOUR”, depois bebi um “CAPPUCCINO” e comi um “CROISSANT”
e mais tarde comi uma “PIZZA”!
Ainda mal tinha terminado e já o J.M. respondia :
- Oh, ‘tá sempre a comer!
Quase esbofeteei o pequeno. Lá porque é magro não
tem de me humilhar perante os colegas, por causa dos meus quilos a mais. Mas
vez disso, ri-me, sentindo-me privilegiada por ter a profissão que tenho
embora, mentalmente, tenha agendado a data para o início da próxima dieta.
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