Dia 15 - A D.ª C. ou hoje não falo de cacifos


Lá vai ela escrever mais uma crónica. A frase é da D.ª C., que me sorria, enquanto acompanhava a minha destreza a descer os degraus. Hoje não foi um dia produtivo… não sei o que escrever., respondi, e de facto, não sei.
De manhã, perdi a bolsa dos lápis, o que me aconteceu também há cerca de uma semana atrás (vide dia 10). Desta vez, veio um aluno no meu encalço que, entre o tímido e o vitorioso, bradou um irritante: A professora esqueceu-se do estojo.
A seguir ao almoço, terminada a segunda aula do round vespertino, dei pela falta dos óculos Oh diabo, exclamei de mim para mim. Como não quis incomodar a colega, decidi esperar pelo toque de saída. Sendo uma pessoa confiante, pelo sim, pelo não, fui à primeira sala onde estivera. Ou melhor, não fui… Professora, não perdeu nada? Era a senhora funcionária do corredor, com uma expressão indefinível: havia nela competência, responsabilidade, um quê de divertimento e pasmo. Muito pasmo. Perdi os óculos – respondi, na secreta esperança de não ouvir : E não perdeu mais nada??  Mas sim, ouvi! Esbofeteei-me até mais não, enquanto respondia: Conte-me tudo…  e aí, sim, foi a vergonha, a senhora abriu a gaveta e começa a tirar os óculos, uma caneta, como lhe chamou, e a chave do meu carro.
Estive quase para me mostrar indignada e perguntar-lhe o que estava ela a fazer com a chave do meu carro guardada na sua gaveta. Mas achei por bem calar-me. E agradecer.
Dos 45 minutos que tinha para descansar, restavam-me 20. Fui para a sala de professores e decidi começar a corrigir uns trabalhos. Mas… ai, onde pára a minha capa?? Lembrei-me da colega E. R., que me fora render e da atrapalhação que isso me causou (vide dia 8). Lá desci as escadas uma vez mais e aguardei pelo toque. Era ver os moços a sair e cada um deles a dar-me o golpe fatal: Deixou aqui as suas coisas, pressora. Felizmente, a turma só tem 20.
Voltando à Dª. C. o que quereria ela dizer com aquele comentário do ah e tal, vai escrever mais uma crónica? Estaria a insinuar que quem não tem nada para fazer escreve crónicas?? Que eu não tenho nada para fazer? Que não me dedico à escola? Que não preparo aulas?? Vou tirar isto a limpo e conto-vos já como vai acabar: amanhã, a Dª C. tentará justificar-se perante a minha expressão inflexível. Não gostei, Dª C., não gostei, dir-lhe-ei, pelo menos três vezes. Será vê-la atrapalhada e já com o seu quê de irritação.
 Depois disso, e só depois, é que lhe vou dizer que estava a brincar.

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