
11:45. Toque de saída.
Contrariados, arrumavam o material e lentamente iam para o intervalo. Fui-me
aproximando da porta, a pensar nos longos 5 minutos de descanso que iria ter. O
condicional cai aqui que nem uma luva, já que o D. quis falar comigo. Pensei
numa resposta rápida e eficaz que o demovesse, mas não me deu tempo, começando
a disparar uma suspeita que o andava a moer há já 8 dias. O ar cauteloso e
desconfiado adensou o mistério e fiquei, genuinamente curiosa. “Pressora, eu acho que é frango.”
- Ãh?- perguntei entre a confusão e o
espanto.
- Sim, pressora,
não é pato! – respondeu-me, mantendo a seriedade.
Fui buscar toda a minha bagagem cultural
sobre mitos urbanos (ou não) e tive este assomo de clarividência:
- Foste ao restaurante chinês? (“mas não é
gato que se diz?”, pensava eu, achando que a criança estava muito perdida)
Franziu o sobrolho, encolheu os ombros,
como quem diz “’Tás parva ou quê?” e esclareceu-me:
- Nã,
pressora, na cantina. Elas ali dizem
que é pato, tipo, arroz de pato, mas é frango. Cá a mim sabe-me a frango!
Percebi que o assunto era demasiado sério
para ser tratado de ânimo leve, apressei-me a assegurar-lhe que iria averiguar
o que se estava a passar, terminando com: “aproveita os últimos minutos do
intervalo!”
- Não vou ter aula, por isso é que falei
consigo.
Mentalmente, dei-lhe uma carga de porrada,
que só acabou com o toque de entrada. Um minuto depois.
Já na sala de professores, ao olhar para o
meu cacifo, lembrei-me da D. “Tenho de lhe dizer”, pensei. De que falo eu, perguntar-se-ão.
Pois cá vai: na passada sexta-feira, a D. confessou a sua culpa e
arrependimento. Ouçamo-la: “Fui eu, e mais não digo, apenas que estou muito
arrependida.” Não foi preciso insistir para ela relevar o que fizera. Parece
que estava na sala de professores, sem nada para fazer, olhou para o meu
cacifo, que é também da D.G., e decidiu baralhar todas as folhas que lá
estavam, alegando que, ouçamo-la uma vez mais: “Assim podem dar as aulas uma da
outra.”
Pois é, D., devo dizer-te que baralhaste
as folhas da D.G. unas con las outras,
pois nesse dia tinha tirado de lá todos os meus pertences. Está dito.
Ainda a este propósito, notícia bem
fresquinha, parece que a outra co-proprietária montou um beliche lá no appartement. A ver vamos.
Neste momento, e porque são leitores
perspicazes, já se terão apercebido de que não falo das bíblias que refiro no
título. Eu confesso, estão ali só para despistar.
Extraordinário!!!
ResponderEliminar:) Os meus dias são assim, porque tenho o imenso privilégio de estar rodeada de gente extraordinária:)
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