Dia 9 - Patos, frangos, bíblias e beliches


11:45. Toque de saída. Contrariados, arrumavam o material e lentamente iam para o intervalo. Fui-me aproximando da porta, a pensar nos longos 5 minutos de descanso que iria ter. O condicional cai aqui que nem uma luva, já que o D. quis falar comigo. Pensei numa resposta rápida e eficaz que o demovesse, mas não me deu tempo, começando a disparar uma suspeita que o andava a moer há já 8 dias. O ar cauteloso e desconfiado adensou o mistério e fiquei, genuinamente curiosa. “Pressora, eu acho que é frango.” 

- Ãh?- perguntei entre a confusão e o espanto.

- Sim, pressora, não é pato! – respondeu-me, mantendo a seriedade.
Fui buscar toda a minha bagagem cultural sobre mitos urbanos (ou não) e tive este assomo de clarividência:
- Foste ao restaurante chinês? (“mas não é gato que se diz?”, pensava eu, achando que a criança estava muito perdida)
Franziu o sobrolho, encolheu os ombros, como quem diz “’Tás parva ou quê?” e esclareceu-me:
- , pressora, na cantina. Elas ali dizem que é pato, tipo, arroz de pato, mas é frango. Cá a mim sabe-me a frango!
Percebi que o assunto era demasiado sério para ser tratado de ânimo leve, apressei-me a assegurar-lhe que iria averiguar o que se estava a passar, terminando com: “aproveita os últimos minutos do intervalo!”
- Não vou ter aula, por isso é que falei consigo.
Mentalmente, dei-lhe uma carga de porrada, que só acabou com o toque de entrada. Um minuto depois.
Já na sala de professores, ao olhar para o meu cacifo, lembrei-me da D. “Tenho de lhe dizer”, pensei. De que falo eu, perguntar-se-ão. Pois cá vai: na passada sexta-feira, a D. confessou a sua culpa e arrependimento. Ouçamo-la: “Fui eu, e mais não digo, apenas que estou muito arrependida.” Não foi preciso insistir para ela relevar o que fizera. Parece que estava na sala de professores, sem nada para fazer, olhou para o meu cacifo, que é também da D.G., e decidiu baralhar todas as folhas que lá estavam, alegando que, ouçamo-la uma vez mais: “Assim podem dar as aulas uma da outra.”
Pois é, D., devo dizer-te que baralhaste as folhas da D.G. unas con las outras, pois nesse dia tinha tirado de lá todos os meus pertences. Está dito.
Ainda a este propósito, notícia bem fresquinha, parece que a outra co-proprietária montou um beliche lá no appartement. A ver vamos.
Neste momento, e porque são leitores perspicazes, já se terão apercebido de que não falo das bíblias que refiro no título. Eu confesso, estão ali só para despistar.

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2 Comentários:

  1. :) Os meus dias são assim, porque tenho o imenso privilégio de estar rodeada de gente extraordinária:)

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