Hoje quis ver de que é que os moços são capazes na
escrita. Pedi-lhes uma autobiografia. “Uma quê?” lá iam perguntando e depois de
lhes explicar o palavrão, que é coisa de que não gosto, puseram mãos à obra.
Ora o M.C. estava a sentir-se muito perdido e comentou que se eu fizesse
perguntas era muito mais fácil. Eu, que não gosto de ver ninguém em aflições (é
isso e palavrões), decidi pôr uns tópicos para o orientar. O primeiro era “identificação”.
Passaram uns minutos e o N.M. chamou-me para perguntar se era preciso pôr o
número do CC.. Esclarecida a dúvida, os jovens continuaram. Ao fundo, ouvi um “Fogo,
isto mexe bué”, o que me deixou a pensar, mas por pouco tempo, porque o M.C.,
visivelmente agastado, retoricamente perguntava ao J.I. por que é que ele ‘tava
a espreitar, se era para tirar ideias. Ora, apesar do tom de voz, o M.C. estava
coberto de razão, pois a ser verdade que o J.I. estava a querer copiar, isso
seria uma usurpação de identidade, o que não está certo. Além disso, o M.C. até
já tinha o seu texto pronto. Achava ele, não fosse não ter atingido o limite
mínimo de palavras, aspecto para o qual lhe chamei a atenção. Contrariado, lá
me tentou convencer de que aquilo já chegava. Como não me demovia, tentou
impressionar-me:
- ‘Tã nã chega porquê? Tenho aqui 9 ou 10 vírgulas,
tenho pontos finais e tudo! Nã chega porquê?
Lá argumentei e devo tê-lo feito de forma
francamente convincente, porque o M.C. pôs novamente mãos à obra e segundos
depois já tinha escrito um parágrafo inteiro.
Percebi que a contagem de palavras é um assunto que
terei de estudar com os moços. É que o G.B., com duas linhas escritas,
assegurava-me que já tinha as 150 palavras, que já passava e tudo. Ora eu, que
não perco uma oportunidade de ganhar seja o que for, quis logo apostar que não
estavam. Ele não se convencia, até que me pus a contá-las à sua frente, ao que
me respondeu:
- Ah, mas não é assim…
Percebi que contara as letras.
Depois foi a vez do R.:
- Oh pressora,
16 é duas palavras não é?
Confusa, fiz uma expressão abstracta, ao que ele me
esclareceu:
- ‘Tão “um” e “seis”.
Eu não respondi, felizmente chegou por ele à
resposta correcta. Há que dar espaço à autonomia dos jovens, sempre defendi
isso!
À autonomia, mas não à falta de respeito, que é
coisa de que não gosto, sobretudo se acompanhada de palavrões. Como o que
acontecera na aula anterior, quando, tentando que me dissessem o nome de uma
função sintáctica, começaram a atirar-me com todos os Complementos de que já
tinham ouvido falar e outros inventados no momento. Altura em que o R. disse:
- Predicado!
Eu cá fiquei logo enervada e a minha expressão
mudou. Perguntei quem é que tinha dito aquilo. O R. acusou-se, sorridente,
assegurando que tinha dito “ao calhas”.
Aproximei-me dele de semblante carregado, pus-me à
sua frente e, olhos nos olhos, disse-lhe:
- Já conversámos sobre desrespeito e esta será a
última conversa sobre este assunto. Não admito esta falta de educação nas
minhas aulas, não admito que voltes a repetir esta palavra! Faço-me entender?!
O R., humilde, baixou a cabeça e pediu desculpas.
A T. é que não se deixou ficar e disse logo, na sua
habitual delicadeza:
- Nã sejas burro, nã vês que ela ´tá a gozar
contigo?
Esta foi a forma da T. dizer que predicado era a
resposta correcta.
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