O teatro, os meus ténis e o W.
Porque 5ª feira é dia de ida ao
teatro, acontecimento que se reveste da sua pompa, afinal é uma espécie de Portugal Fashion, mas em ponto grande,
já que a passerelle começa na escola
e só termina largos quilómetros depois, no CCL, percurso este feito em passo de
corrida. Este aspecto, há que assumi-lo, não estamos habituados a vê-lo nos
desfiles, mas faz falta, já que traz todo um dinamismo corporal e vocal, que
torna o espectáculo num momento imperdível, e, posso, para comprovar o que
digo, deixar alguns registos de outros desfiles que já fiz:
“ ’Bora,’ bora, temos de lá estar
às 15h!” ou “Fogo, pressora, ‘tou cansado(a)!” ou “Pressora, podíamos ir todos
comer gelados!” ou “Quem é que manda aqui? Sou eu! Então não quero ver ninguém
à minha frente!”
Tudo isto observado por um
público que oscila entre o pasmado e o assustado. O susto, normalmente, vem do
meu tom de voz, quando algum pupilo me tenta passar à frente, alegando mais
energia, em virtude da juventude que, na sua perspectiva, me falta.
Prosseguindo, desta vez, ficamo-nos
por cá, no entanto, para a próxima, iremos ao CCB, sim, à capital. Mas, para
isso, há que treinar o passo e a perna, para que não nos chamem provincianos,
quando, desde Lagos chegarmos à magna urbe, após termos calcorreado os caminhos de Portugal.
Tanta conversa para dizer que
calcei uns ténis, para habituar o pé e, no dia do grande evento, estar preparada.
Confortáveis, de qualidade inegável, giríssimos, e assim, toda aperaltada do
tornozelo para baixo, lá fui dar aulas, aos meus jovens que, expectantes,
ansiavam pela minha ausência.
Entrei na sala, comecei a aula,
prossegui com a aula e … nada.
- Moços, não sei se já repararam
nos meus ténis novos… - disse eu, disfarçando a quase humilhação que sentia.
Gostei de ver 19 pares de olhos a
inclinarem a sua curiosidade na direcção dos meus pés. Eis que me apercebo da
falta de dois olhinhos, que procurei com os meus e que vou encontrar, perdidos,
a olhar vagamente para o quadro interactivo. Eram os do P., que perguntava:
- Onde é que tem os ténis, pressora?
- Na cabeça, querido P. – disse
logo eu.
Mas o P. é inteligente e viu logo
que eu estava a brincar, ainda que me tenha olhado para a cabeça, sorrindo-me. Mas
perdido.
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