Ao entrar, lá tentei pôr ordem nos moços, que
continuam a não saber qual o lugar em que se devem sentar. Entretanto, tirei as
folhas da pasta e a M., com ar aflitíssimo, informou-me que ia com a T. a um
lugar que não cheguei a saber qual era…
- Era o que faltava! – disse logo eu, com uma
autoridade que paralisou a M. e só lhe permitiu um breve justificação:
- Ela tá “même” muito mal, “pressora”!
Desviei o olhar para a T., que se contorcia.
Mantive a calma, e agi em conformidade:
- T., tu não podes estar aqui nessas condições!-
constatei, alterada pela sua expressão de dor.
- “Pressora”, eu vou com ela, insistia a M.
- Só se te contorceres também.
A M. respondeu que estava bem e sentou-se.
A T. explicou-me o que se estava a passar, chamei a
senhora funcionária, que a levou.
Comecei a aula. E ia já embalada, a senhora
funcionária bateu à porta, a pedir que a C. saísse, pois a mãe estava à espera.
Parece que tinha uma consulta.
Continuei a aula, e estava a começar a embalar, quando
entrou a T., combalida, mas bastante melhor. Sentou-se e, digo eu, que já a vou
conhecendo, devia estar mesmo mal. Não refilou uma única vez.
Tento o arranque, o motor começa a dar sinais de
aceleração, palavras compostas e palavras derivadas e estão todos a perceber? E
apareceu a senhora funcionária. Vinha buscar a T. para ir à direcção. A turma
emudeceu, houve uns olhares cúmplices e preocupados e eu, que nunca sei de
nada, tentei a minha sorte, de forma, digamos…parva.
- Passa-se alguma coisa? – era evidente que se
estavam a passar coisas, por que raio não perguntei logo o que era. É óbvio que
a resposta foi negativa, que não, que estava tudo bem. Tenho de ir eu também
falar com a Direcção, que isto de me mandarem vir buscar os alunos à sala não
está certo. Tenho 30, é verdade, mas são meus!
Prossegui e, quando tento arrancar para novo
embalo, tocou para saída.
Assim como quem não quer a coisa, perguntei à M. o
que é que a T. tinha feito. E tive uma resposta pouco esclarecedora:
- Não sei por qual das cenas é que a chamaram, “pressora”.
Ao fim da tarde, vinha a descer as escadas, a pensar,
seriamente, que rumo profissional dar à minha vida, vi a D.ª F., com aquela
expressão de “olha a professora Antónia
onde ela vem”, e meti conversa. Não tive muita sorte. É que a D.ªF. estava
no seu posto, que é como quem diz, a controlar, para actuar de imediato. Eu
diria até que esta senhora é melhor do que qualquer câmara de vigilância.
Não me pôde dar conversa, com muita pena minha, que
estava disposta a isso. Apareceu um rapazote, todo encolhido e num berreiro. A
D.ª F. quis logo saber o que se passava. Parece que havia outro que o estava a
ameaçar de porrada. É claro que a D.ª F. quis saber quem era. O outro moço,
tive oportunidade de o ver, era baixo e franzino, mas um homem não se mede aos
palmos e este pequeno tinha tanta raiva, que, pareceu-me, estava até capaz de
bater na D.ª F. Ela é que não esteve pelos ajustes e, de mãos na cintura, enfrentou
o pequeno irritado com um “Queres bater-lhe prequé?”
Ele lá disse, mas articulava muito mal e não
consegui perceber o motivo da discórdia. Não sei se a D.ª F. conseguiu, mas
acredito que sim. Ela leva sempre a água ao seu moinho.
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